A poeira se acumula, impiedosa. E limpam, e limpam. Mas a poeira volta. E repousa serena no topo de armários e nas molduras de quadros. E se acomoda até mesmo no ventilador de teto que ainda ontem estava a girar e revirar o mesmo ar quente, e a mesma poeira de sempre. O pó. Fragmentos de tudo que um dia já foi e já não é.
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As emoções passam, ao vento. As circunstâncias nos influenciam. De forma quase grotesca, como se fôssemos marionetes. Lembrei de um experimento. As “cobaias” haviam sido convidadas para algum tipo de entrevista, se bem me lembro. O “entrevistador” as deixava, uma por uma, numa sala de espera, cheia de outras pessoas, todos atores. Pouco depois a cobaia via uma fumaça entrando por baixo da porta fechada, mas ninguém parecia notar ou até mesmo se importar. Isso já era o bastante para aquele indivíduo ficar ali, passivo diante de um provável perigo. Algumas pessoas até tentavam alertar os companheiros de espera — “Olha essa fumaça. Será que está pegando fogo?” — para somente receberem a indiferente resposta “Não deve ser nada.”. Outras, raríssimas, visivelmente preocupadas, iam além. Abriam a porta, tentavam chamar alguém. Mas todas terminaram sentadas, resignadas, obedientes, acompanhando o grupo, em conformidade com o entorno. É fácil ver, pensando bem, o tamanho do desafio que é manter algo de si, intocável, diante da urgência e da pressão de todo o que vem de fora.
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E por falar em pó q retorna… Qual sua opinião sobre a polêmica volta dos hospícios, e da possibilidade do uso de eletrochoque?
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Miau, acredito em tratamentos que façam as pessoas se sentirem bem e poderem ter uma vida em sociedade. Acho que o modelo de hospital psiquiátrico, o de manicômio, faz justamente o contrário: isola os indivíduos e cria ainda mais estigma e preconceito
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Concordo! Post importantíssimo!
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